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Descarbonização da Economia: Custos e Oportunidades para o Setor Produtivo

Descarbonização da Economia: Custos e Oportunidades para o Setor Produtivo

26/11/2025 - 23:44
Lincoln Marques
Descarbonização da Economia: Custos e Oportunidades para o Setor Produtivo

Em um momento em que o mundo se mobiliza para conter as mudanças climáticas, o Brasil assume papel estratégico. A transição para uma economia de baixo carbono não é apenas imperativa do ponto de vista ambiental, mas representa uma grande chance de renovação e prosperidade para o setor produtivo nacional.

Contexto Geral da Descarbonização

A descarbonização envolve a redução ou neutralização das emissões de gases de efeito estufa (GEE), principalmente CO₂, em processos industriais, agrícolas e de transporte. O compromisso brasileiro, firmado no Acordo de Paris, prevê a redução de 59% a 67% das emissões até 2035, com objetivo de neutralidade climática até 2050.

Esse movimento reflete uma necessidade global de conter o aquecimento do planeta e também se alinha a uma oportunidade histórica de atrair investimentos e modernizar a infraestrutura, aproveitando o potencial do país para produzir e consumir energia de forma mais limpa.

Custos da Descarbonização

Os custos são substanciais, mas devem ser encarados como investimentos de longo prazo. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a descarbonização do setor industrial brasileiro pode custar cerca de R$ 40 bilhões até 2050, sem considerar adaptações em redes de energia e logística.

  • R$ 40 bilhões em adaptação industrial até 2050;
  • R$ 48,2 bilhões investidos em projetos ambientais em 2025;
  • Fluxo médio de R$ 26,6 bilhões anuais em financiamento climático (2020-2022);
  • US$ 37 bilhões em investimentos internacionais em 2023.

Além disso, o desafio de modernizar portos, estradas e sistemas de telecomunicações para suportar novas tecnologias pode elevar ainda mais esse valor. Contudo, o retorno potencial justifica a mobilização de recursos públicos e privados em torno dessa agenda.

Oportunidades e Benefícios Econômicos

A adoção de práticas sustentáveis é capaz de impulsionar o crescimento econômico e a competitividade. Estima-se que o plano “Novo Brasil” eleve o PIB em 0,8 ponto percentual ao ano até 2035, adicionando até R$ 465 bilhões ao produto interno bruto ao longo desse período.

  • 0,8 ponto percentual de ganho anual de PIB até 2035;
  • R$ 465 bilhões de acréscimo ao PIB até 2035;
  • 2 milhões de novos empregos até 2035;
  • Geração de empregos verdes até 2030 com potencial de 7 milhões de vagas.

Cada R$ 1 investido em energia renovável pode gerar retorno de R$ 1,57, enquanto a descarbonização da agricultura pode render US$ 2 de ganho por dólar investido. A transição energética justa e eficiente ainda reduz riscos climáticos e fortalece a segurança energética.

Desafios e Barreiras

Para aproveitar as oportunidades, é preciso enfrentar obstáculos estruturais. O persistente “Custo Brasil” e a alta taxa de juros elevam o custo de capital, dificultando investimentos em tecnologias limpas. Ao mesmo tempo, 82% dos subsídios fiscais direcionados ao setor de energia ainda favorecem combustíveis fósseis.

  • Elevado custo de capital limita investimentos limpos;
  • Setores “hard-to-abate” como cimento, siderurgia e alumínio;
  • Ausência de políticas de longo prazo para precificação de carbono;
  • Subsídios majoritários voltados a combustíveis fósseis.

Além disso, a complexidade regulatória e a instabilidade de marcos legais podem desestimular investidores. A consolidação de um Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) eficiente e de incentivos estáveis é crucial para superar essas barreiras.

Instrumentos e Políticas de Incentivo

Programas públicos bem delineados já oferecem alguns caminhos de aceleração:

A criação de políticas de investimentos privados em sustentabilidade e inovação e o direcionamento de receitas de leilões de carbono para redução de distorções podem aumentar a atratividade do setor e envolver toda a cadeia produtiva.

Adoção de Tecnologias e Setores-Chave

Avanços tecnológicos são pilares da descarbonização. No setor industrial, destacam-se:

  • Recuperação de calor em fornalhas e pré-aquecedores;
  • Substituição de moinhos de bola por moinhos horizontais (FPGR);
  • Sistemas avançados de controle e ventiladores de alta eficiência;
  • Integração de biomassa e fontes renováveis para geração de calor.

Setores como agropecuária, energia, construção civil e transporte têm papéis centrais:

Na agropecuária, a redução do desmatamento e a intensificação sustentável podem aumentar a produtividade com custo negativo. No setor energético, a expansão de solar, eólica e biocombustíveis reforça a matriz energética mais limpa e diversificada. Na construção civil e siderurgia, há espaço para materiais de baixo carbono e eficiência. No transporte, a eletrificação e o uso de CO₂ biogênico surgem como soluções promissoras.

Tendências e Recomendações Finais

Empresas brasileiras já incorporam metas de descarbonização, buscando vantagem competitiva no mercado global. A cooperação internacional e o alinhamento com agendas multilaterais podem facilitar a transferência de tecnologias e recursos.

Para viabilizar o processo, recomenda-se:

  • Criação de um marco regulatório estável e de longo prazo;
  • Ampliação de mecanismos de precificação do carbono;
  • Promoção de financiamento climático consistente e crescente;
  • Integração de políticas de inclusão social e preservação ambiental.

Ao combinar esforços públicos e privados, o Brasil pode não apenas cumprir suas metas climáticas, mas impulsionar a inovação, criar empregos e consolidar seu protagonismo em uma transição energética global com cooperação que se desenha inevitável e promissora.

Referências

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