No cenário financeiro global, poucas forças são tão influentes quanto o poder do dólar americano. Sua posição como moeda de reserva do mundo molda decisões de países em todas as regiões, especialmente os mercados emergentes que enfrentam pressões constantes. Nesta análise aprofundada, exploraremos as raízes históricas, os mecanismos de transmissão e as perspectivas que definem essa complexa relação.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o dólar consolidou-se como o eixo do sistema monetário internacional, garantindo liquidez e estabilidade para transações comerciais de grande escala. Esse predomínio resulta não apenas do tamanho da economia dos Estados Unidos, mas também de uma rede institucional que sustenta sua credibilidade.
Para muitos países, a dívida externa em dólares e o domínio do privilégio de emitir títulos no mercado global tornam o balanço vulnerável a oscilações cambiais. A forte dependência do dólar implica que choques na política monetária americana reverberam de imediato nas economias periféricas, ampliando riscos e custos de financiamento.
Em 2025, o dólar oscilou entre R$5,70 e R$6,30, atingindo picos de alta que testaram a capacidade de reação dos bancos centrais. A volatilidade cambial foi intensificada por sinais divergentes na condução de juros pelo Fed e pelas incertezas geopolíticas.
Embora o real tenha apresentado forte recuperação de mais de 14% entre janeiro e setembro, figurando entre as melhores desempenhos emergentes, a trajetória do dólar ainda é marcada por cenários contrastantes:
Além do real, outras moedas emergentes sofreram com a queda de quase 5% do MSCI Emerging Markets Currency Index em outubro, refletindo um viés global de aversão ao risco.
Os principais determinantes observados incluem a política monetária do Federal Reserve, conflitos geopolíticos, fluxos de capitais e níveis de inflação global. No âmbito local, eleições e reformas fiscais em países emergentes exercem influência direta sobre a atratividade das suas moedas.
Esses fatores combinam-se de modo dinâmico, gerando momentos de alta volatilidade e redefinindo riscos para economias que ainda não possuem mercados financeiros aprofundados.
Estudos recentes indicam que a valorização do dólar tende a ser contracionista para o crescimento. Em vez de estimular exportações, a alta do dólar eleva custos de insumos importados e pressiona a inflação local.
Principais canais de transmissão:
No Brasil, a baixa alavancagem externa e a exposição a commodities conferem certo grau de resiliência, mas não anulam os efeitos de custos de financiamento elevados e de um ambiente global de juros em alta.
Em 2025, moedas latino-americanas tiveram, em média, apreciação de 6% frente ao dólar, mas o crescimento econômico geral da região permanece abaixo do potencial. Revisões em baixa para o PIB de México, República Dominicana e Colômbia destacam o ritmo modesto de recuperação.
O Brasil, apesar de um real mais competitivo em diversos momentos, enfrenta desafios estruturais como a dependência de exportações de commodities e a necessidade de reformas fiscais. O risco eleitoral em 2026 adiciona uma camada extra de incerteza ao cenário cambial.
Um dólar fortalecido tende a elevar custos de financiamento externo e a drenar parte do apetite dos investidores por ativos emergentes. Por outro lado, um enfraquecimento relativo da moeda americana pode reduzir custos de capital e atrair maior volume de recursos.
No entanto, mesmo um dólar mais fraco não solucionaria problemas estruturais de déficit fiscal ou de competitividade. Trata-se, sobretudo, de um alívio conjuntural, que precisa ser acompanhado por políticas internas robustas para gerar impacto duradouro.
Embora exista discussão sobre alternativas ao dólar em acordos comerciais, a elevada liquidez e a confiança global na moeda americana ainda tornam qualquer substituto menos atraente. Experiências regionais de moedas comuns enfrentam desafios de volatilidade e risco de desordens cambiais.
Assim, a substituição completa do dólar parece distante, mas a diversificação de reservas e acordos bilaterais vem ganhando espaço como forma de mitigação.
O horizonte próximo aponta para um ambiente de juros ainda elevados nos EUA e, possivelmente, cortes graduais a partir de meados de 2026. Países emergentes precisarão:
Veja abaixo projeções para o dólar em reais ao fim de 2025:
Em suma, a dança entre o dólar e as moedas emergentes seguirá marcada por momentos de tensão e alívio, exigindo dos formuladores de políticas flexibilidade e visão estratégica. A capacidade de adaptação determinará quais países sairão fortalecidos deste complexo balé cambial.
Referências